LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: PATRÍSTICA
O QUE É PATRÍSTICA?
O termo técnico Patrística
aplica-se à era dos Padres da Igreja, sua época e suas obras.
O título cristão de "Pai/Padre" aplica-se aos
homens que foram considerados Pais espirituais dos Cristãos. Foram homens que
ouviram a pregação dos Apóstolos, foram seus discípulos, por eles instituídos
Bispos da Igreja e guardavam de cabeça a doutrina apostólica. Após a morte dos
Santos Apóstolos, eram considerados a única
referência segura quanto à Sã Doutrina, tornando-se os novos Pais
espirituais dos cristãos, não só pela pregação mas também porque através do
batismo inseriam as pessoas na Igreja.
A fé transmitida pelos Santos Padres gozava de imensa
credibilidade e foi base para a teologia da Igreja.
O estudo da fé dos Santos Padres é de fundamental
importância para todo cristão que deseja estar posse de fé comum da Igreja
Primitiva. Nosso Senhor Jesus Cristo orou ao Pai pela união dos Cristãos (cf.
Jo 17, 6-24 ). Assim, todo cristão tem a obrigação de buscar a unidade da fé; e
o primeiro passo para isto é conhecendo
a antiga fé dos cristãos, deixada pelos Santos Apóstolos e assegurada pelos
Pais da Igreja. Passo seguro para a unidade dos cristãos é estar de posse do
que nos era comum, ter conhecimento e professar a fé da Igreja indivisa.
Comete grave erro todo aquele que se nega a professar a
antiga fé, depósito precioso deixado pelos Santos Apóstolos e tão bem defendido
pelos Santos Padres.
QUEM
FORAM OS SANTOS PADRES?
A Igreja conta com 93 Santos Padres.
Chamamos de «Padres da Igreja»
aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII,
que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que
foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias
e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a
sua fonte mais rica.
Alguns foram papas. A maioria eram
bispos. Mas havia também sacerdotes, diáconos e até leigos. Podemos tomar como
exemplo:
S. Clemente de Roma (†102), Papa de
Roma (88 - 97)
Santo Inácio de Antioquia (†110)
São Policarpo (†156)
Orígenes de Alexandria (184 - 254)
Tertuliano de Cartago (†220)
São Cirilo de Jerusalém, bispo (315
- 386)
São Jerônimo ( 348 - 420),
presbítero, Itália
São João Crisóstomo - (349 - 407),
bispo
Santo Agostinho - (354 - 430), bispo
São Leão Magno (400 - 461), papa de
Roma - Toscana, Itália
LIGAÇÃO ENTRE PATRÍSTICA E TRADIÇÃO DA IGREJA
A Sagrada Tradição não foi conservada pela Igreja apenas
oralmente, mas também foi sendo vertida por escrito pelas gerações que
sucederam os santos apóstolos.
Mesmo durante a era apostólica, muitos já queriam se separar
da Igreja, pregando um Evangelho diferente. Mas todas estas heresias caíram por
terra, por causa do testemunho vivo dos Apóstolos. Com a morte dos Apóstolos,
seus legítimos sucessores se preocuparam em escrever aquilo que os Apóstolos não deixaram por Escrito, para
combater heresias nascentes, e para deixar para a posteridade a memória cristã.
Veja um testemunho primitivo:
"Em primeiro lugar [Inácio de Antioquia], acautelava-se a conservar firmemente a
tradição dos apóstolos que, por segurança, julgou necessário fixar ainda por escrito. Estava já prestes a ser
martirizado." (História Eclesiástica Livro III, 36,4. Eusébio de Cesaréia,
+ ou - 317 d.C).
Ou seja, graças aos Santos Padres temos por escrito o
ensinamento transmitido pelos Apóstolos, que é a base da Tradição da Igreja.
A Igreja Católica não se guia apenas pela Bíblia (a Revelação
escrita), mas também pela Revelação oral que chegou até nós. Sem esta última, nem mesmo a Bíblia existiria como a
temos hoje, já que ela foi berçada e redigida pela Igreja.
“Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que
escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum, 8). Como então, dispensar a
Tradição na sua interpretação? Como
aceitar a existência da fruta e negar a árvore que a gerou?
O Catecismo (66) ensina que: “embora a Revelação já esteja
terminada, não está explicitada por completo; caberá à fé cristã captar
gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos.”
Assim, afirma o Concílio Vaticano II, através do documento Dei Verbum: “[...] não é através da
Escritura apenas que a Igreja consegue sua certeza a respeito de tudo o que foi
revelado. Por isso ambas – Escritura e Tradição – devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e
reverência.”
O LEGADO DOS SANTOS PADRES
Os escritos dos Santos Padres da Igreja dividem-se
basicamente em dois tipos:
1) Escritos que relembram a Tradição recebida dos apóstolos e a defendem contra as heresias.
Nesta primeira categoria encontram-se escritos eclesiológicos, sobre o batismo,
sobre o ministério dos pastores, sobre o matrimônio, etc.
2) Tratados teológicos.
Quando os cristãos necessitavam em desenvolver um entendimento melhor da fé,
muitos tratados teológicos foram propostos, até que se chegasse a uma solução
definitiva. Nesta segunda categoria encontram-se escritos que ajudaram os
sucessores dos apóstolos a traçarem os rumos teológicos do Cristianismo.
Os escritos cristãos desenvolveram desde o fim do séc.
I um papel central e importante, em muitos aspectos fundamentais para a vida
dos cristãos e para a doutrinação do
cristianismo nos setores litúrgico, canônico, doutrinário e teológico ao
longo dos séculos, estes escritos sejam eles de caráter canônico (Bíblico) ou
não, favoreceram a vida e prática dos cristãos em comunidade.
As obras dedicadas à apologética, doutrina, liturgia, e
principalmente as que ajudaram na elaboração e doutrinação de dogmas e ensinos
cristãos a luz das Escrituras e da tradição Patrística, foram de extrema
importância para a cristianização das
verdades não explícitas biblicamente e comprovadas pela Tradição.
A “PROVA PATRÍSTICA”
Devido à importância que os Santos Padres tinham como
testemunhas privilegiadas do Depositum Fidei (Depósito da Fé) da Santa Igreja,
esta desenvolveu o conceito da "prova patrística".
A prova patrística foi utilizada pela primeira vez por São Basílio Magno, que acrescentou em
sua obra "O Espírito Santo"
uma lista de Padres da Igreja para apoiar sua opinião doutrinária sobre o
Espírito Santo. Esta obra de São Basílio serviu de base para o Concílio de
Constantinopla declarar o dogma da Divindade do Espírito Santo. Vemos que foi a fé dos Santos Padres que
foi usada para o fundamento da fé que hoje temos na Divindade do Espírito Santo,
pilar fundamental da doutrina da Santíssima Trindade.
Santo Agostinho serve-se também da prova patrística a partir
de 412, especialmente na controvérsia contra o pelagianismo.
São Cirilo de Alexandria também se utilizou dela durante o
Concílio de Éfeso, lendo as obras dos Santos Padres, fazendo com que o Sínodo aceitasse oficialmente o título Theotókos
(Mãe de Deus) para a Virgem Maria.
O uso constante da prova patrística como verificação da autenticidade da fé fez
com que São Vicente de Lérins criasse o clássico conceito de "magistri probabiles" em seu Communitorium (434), desenvolvendo a teoria da
prova Patrística.
PATROLOGIA: MOTIVO DE CONVERSÃO
A Patrologia
trata necessariamente de um ramo da teologia cujo núcleo essencial são dos
Padres da Igreja e seus escritos no sentido eclesial, assim é a ciência que
trata a literatura cristã antiga em
todos os seus aspectos e com todos os métodos apropriados.
Muitos pastores evangélicos tem se convertido ao catolicismo
através do estudo das obras dos Santos Padres (patrologia). Podemos dar como
exemplo o escritor e ex-pastor Scott Hann (autor dos livros “O banquete do
Cordeiro” e “Todos os caminhos vão dar em Roma”), que aponta o estudo dos
Santos Padres como fundamento essencial de sua conversão à Igreja Católica.
TRECHO
DA CARTA APOSTÓLICA PATRES ECCLESIAE
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
"Na verdade; foram "padres" ou pais da Igreja porque deles,
mediante o Evangelho, recebeu ela a vida.
E também seus construtores, porque deles — sobre o fundamento único colocado
pelos Apóstolos, que é Cristo — a Igreja de Deus foi edificada nas suas
estruturas fundamentais.
Da vida recebida dos seus pais ainda
hoje vive a Igreja; e sobre as estruturas postas pelos
seus primeiros construtores ainda hoje é
edificada, na alegria e na pena do seu caminho e do seu trabalho
quotidiano.
Padres
ou pais foram, e pais continuam a ser
para sempre: eles mesmos, de fato, são estrutura estável da Igreja, e, em
favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira que
todo o anúncio e magistério seguinte, se
quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto com o anúncio e o magistério deles;
todo o carisma e todo o ministério deve
beber na fonte vital da paternidade deles; e toda a pedra nova,
acrescentada ao edifício santo que todos os dias cresce e se amplifica, deve colocar-se nas estruturas já por eles
postas e a elas soldar-se e ligar-se."
REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 27/06/2012