quarta-feira, 27 de junho de 2012

PATRÍSTICA


                                                                                                  LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: PATRÍSTICA

                                          O QUE É PATRÍSTICA? 
O termo técnico Patrística aplica-se à era dos Padres da Igreja, sua época e suas obras.
O título cristão de "Pai/Padre" aplica-se aos homens que foram considerados Pais espirituais dos Cristãos. Foram homens que ouviram a pregação dos Apóstolos, foram seus discípulos, por eles instituídos Bispos da Igreja e guardavam de cabeça a doutrina apostólica. Após a morte dos Santos Apóstolos, eram considerados a única referência segura quanto à Sã Doutrina, tornando-se os novos Pais espirituais dos cristãos, não só pela pregação mas também porque através do batismo inseriam as pessoas na Igreja.
A fé transmitida pelos Santos Padres gozava de imensa credibilidade e foi base para a teologia da Igreja.
O estudo da fé dos Santos Padres é de fundamental importância para todo cristão que deseja estar posse de fé comum da Igreja Primitiva. Nosso Senhor Jesus Cristo orou ao Pai pela união dos Cristãos (cf. Jo 17, 6-24 ). Assim, todo cristão tem a obrigação de buscar a unidade da fé; e o primeiro passo para isto é conhecendo a antiga fé dos cristãos, deixada pelos Santos Apóstolos e assegurada pelos Pais da Igreja. Passo seguro para a unidade dos cristãos é estar de posse do que nos era comum, ter conhecimento e professar a fé da Igreja indivisa.
Comete grave erro todo aquele que se nega a professar a antiga fé, depósito precioso deixado pelos Santos Apóstolos e tão bem defendido pelos Santos Padres.

                                 QUEM FORAM OS SANTOS PADRES?
 A Igreja conta com 93 Santos Padres.
Chamamos de «Padres da Igreja» aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica.
Alguns foram papas. A maioria eram bispos. Mas havia também sacerdotes, diáconos e até leigos. Podemos tomar como exemplo:
S. Clemente de Roma (†102), Papa de Roma (88 - 97)
Santo Inácio de Antioquia (†110)
São Policarpo (†156)
Orígenes de Alexandria (184 - 254)
Tertuliano de Cartago (†220)
São Cirilo de Jerusalém, bispo (315 - 386)
São Jerônimo ( 348 - 420), presbítero, Itália
São João Crisóstomo - (349 - 407), bispo
Santo Agostinho - (354 - 430), bispo
São Leão Magno (400 - 461), papa de Roma - Toscana, Itália

                     LIGAÇÃO ENTRE PATRÍSTICA E TRADIÇÃO DA IGREJA
 A Sagrada Tradição não foi conservada pela Igreja apenas oralmente, mas também foi sendo vertida por escrito pelas gerações que sucederam os santos apóstolos.
Mesmo durante a era apostólica, muitos já queriam se separar da Igreja, pregando um Evangelho diferente. Mas todas estas heresias caíram por terra, por causa do testemunho vivo dos Apóstolos. Com a morte dos Apóstolos, seus legítimos sucessores se preocuparam em escrever aquilo que os Apóstolos não deixaram por Escrito, para combater heresias nascentes, e para deixar para a posteridade a memória cristã.
Veja um testemunho primitivo:
"Em primeiro lugar [Inácio de Antioquia], acautelava-se a conservar firmemente a tradição dos apóstolos que, por segurança, julgou necessário fixar ainda por escrito. Estava já prestes a ser martirizado." (História Eclesiástica Livro III, 36,4. Eusébio de Cesaréia, + ou - 317 d.C).
Ou seja, graças aos Santos Padres temos por escrito o ensinamento transmitido pelos Apóstolos, que é a base da Tradição da Igreja.
A Igreja Católica não se guia apenas pela Bíblia (a Revelação escrita), mas também pela Revelação oral que chegou até nós. Sem esta última, nem mesmo a Bíblia existiria como a temos hoje, já que ela foi berçada e redigida pela Igreja.
“Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum, 8). Como então, dispensar a Tradição na sua interpretação? Como aceitar a existência da fruta e negar a árvore que a gerou?
O Catecismo (66) ensina que: “embora a Revelação já esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos.”
Assim, afirma o Concílio Vaticano II, através do documento Dei Verbum: “[...] não é através da Escritura apenas que a Igreja consegue sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado. Por isso ambas – Escritura e Tradição – devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência.”

                                      O LEGADO DOS SANTOS PADRES
 Os escritos dos Santos Padres da Igreja dividem-se basicamente em dois tipos:
1) Escritos que relembram a Tradição recebida dos apóstolos e a defendem contra as heresias. Nesta primeira categoria encontram-se escritos eclesiológicos, sobre o batismo, sobre o ministério dos pastores, sobre o matrimônio, etc.
2) Tratados teológicos. Quando os cristãos necessitavam em desenvolver um entendimento melhor da fé, muitos tratados teológicos foram propostos, até que se chegasse a uma solução definitiva. Nesta segunda categoria encontram-se escritos que ajudaram os sucessores dos apóstolos a traçarem os rumos teológicos do Cristianismo.

Os escritos cristãos desenvolveram desde o fim do séc. I um papel central e importante, em muitos aspectos fundamentais para a vida dos cristãos e para a doutrinação do cristianismo nos setores litúrgico, canônico, doutrinário e teológico ao longo dos séculos, estes escritos sejam eles de caráter canônico (Bíblico) ou não, favoreceram a vida e prática dos cristãos em comunidade.
As obras dedicadas à apologética, doutrina, liturgia, e principalmente as que ajudaram na elaboração e doutrinação de dogmas e ensinos cristãos a luz das Escrituras e da tradição Patrística, foram de extrema importância para a cristianização das verdades não explícitas biblicamente e comprovadas pela Tradição.

                                            A “PROVA PATRÍSTICA”
Devido à importância que os Santos Padres tinham como testemunhas privilegiadas do Depositum Fidei (Depósito da Fé) da Santa Igreja, esta desenvolveu o conceito da "prova patrística". 
A prova patrística foi utilizada pela primeira vez por São Basílio Magno, que acrescentou em sua obra "O Espírito Santo" uma lista de Padres da Igreja para apoiar sua opinião doutrinária sobre o Espírito Santo. Esta obra de São Basílio serviu de base para o Concílio de Constantinopla declarar o dogma da Divindade do Espírito Santo. Vemos que foi a fé dos Santos Padres que foi usada para o fundamento da fé que hoje temos na Divindade do Espírito Santo, pilar fundamental da doutrina da Santíssima Trindade.
Santo Agostinho serve-se também da prova patrística a partir de 412, especialmente na controvérsia contra o pelagianismo.
São Cirilo de Alexandria também se utilizou dela durante o Concílio de Éfeso, lendo as obras dos Santos Padres, fazendo com que o Sínodo aceitasse oficialmente o título Theotókos (Mãe de Deus) para a Virgem Maria.
O uso constante da prova patrística como verificação da autenticidade da fé fez com que São Vicente de Lérins criasse o clássico conceito de "magistri probabiles" em seu Communitorium (434), desenvolvendo a teoria da prova Patrística.

                             PATROLOGIA: MOTIVO DE CONVERSÃO
A Patrologia trata necessariamente de um ramo da teologia cujo núcleo essencial são dos Padres da Igreja e seus escritos no sentido eclesial, assim é a ciência que trata a literatura cristã antiga em todos os seus aspectos e com todos os métodos apropriados.
Muitos pastores evangélicos tem se convertido ao catolicismo através do estudo das obras dos Santos Padres (patrologia). Podemos dar como exemplo o escritor e ex-pastor Scott Hann (autor dos livros “O banquete do Cordeiro” e “Todos os caminhos vão dar em Roma”), que aponta o estudo dos Santos Padres como fundamento essencial de sua conversão à Igreja Católica.


TRECHO DA CARTA APOSTÓLICA PATRES ECCLESIAE DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II

"Na verdade; foram "padres" ou pais da Igreja porque deles, mediante o Evangelho, recebeu ela a vida. E também seus construtores, porque deles — sobre o fundamento único colocado pelos Apóstolos, que é Cristo — a Igreja de Deus foi edificada nas suas estruturas fundamentais.

Da vida recebida dos seus pais ainda hoje vive a Igreja; e sobre as estruturas postas pelos seus primeiros construtores ainda hoje é edificada, na alegria e na pena do seu caminho e do seu trabalho quotidiano.

Padres ou pais foram, e pais continuam a ser para sempre: eles mesmos, de fato, são estrutura estável da Igreja, e, em favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira que todo o anúncio e magistério seguinte, se quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto com o anúncio e o magistério deles; todo o carisma e todo o ministério deve beber na fonte vital da paternidade deles; e toda a pedra nova, acrescentada ao edifício santo que todos os dias cresce e se amplifica, deve colocar-se nas estruturas já por eles postas e a elas soldar-se e ligar-se."

                                                              REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 27/06/2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

FRANCISCANISMO


                                                                                                                                                                                                            LOCAL: CAPELA BEATO JOÃO PAULO II
TEMA: FRANCISCANISMO 
"Francisco, o mundo tem saudades de ti" (Beato João Paulo II)

A ORDEM FRANCISCANA
A Ordem São Francisco teve início em 1209 quando, convertido, estabeleceu para si próprio vida de intensa vivência do Evangelho, em austera mortificação, penitência e  pobreza. A ele, juntaram-se 12 companheiros, com quem estabeleceu as regras iniciais.   Nesta mesma época, animada e decidida a seguir seu exemplo, Santa Clara de Assis foi por São Francisco orientada a ingressar no mosteiro beneditino de Assis e, posteriormente foi convidada a fundar uma congregação feminina,  destinada a irmãs religiosas de vida monástica contemplativa.
Em curtíssimo espaço de tempo, o clima pela devoção e piedade contagiou todos os segmentos da sociedade. Os leigos e mesmo pessoas casadas, movidos pelo espírito franciscano, ardentemente desejavam abandonar-se a Deus, de forma que São Francisco acabou fundando também a Ordem Franciscana Secular,  destinada aos casados, leigos ou pessoas  solteiras. 
O Papa Inocênio III, já em 1209, havia aprovado a Ordem verbalmente, mas foi em 1221 que a regra franciscana recebeu aprovação canônica, firmada pelo Papa Honório III, cuja regra permanece em vigor até os dias atuais.  No decorrer do tempo, a estrutura da congregação dividiu-se em diversas ramificações, canonicamente estudadas e aprovadas, de forma que a Ordem Franciscana, hoje, se subdivide em três.
 
PRIMEIRA ORDEM FRANCISCANA

1. Ordem dos Frades Menores, ou observantes (O.F.M.)
A Ordem dos Frades Menores foi fundada por São Francisco de Assis, no ano de 1209, quando recebeu aprovação verbal do Papa Inocênio III, e cujas regras foram canonicamente aprovadas  pelo  Papa Honório III, em 1221.  Permanecem até hoje inalteradas a observância das normas, que  remontam  as  constituições primitivas;  inclusive, documentos contendo a  regra original com aprovação da Santa Sé, encontram-se cuidadosamente guardadas no Sacro Colégio de Assis, e cuja  cópia encontra-se no Vaticano. 

2. Ordem dos Frades Menores Conventuais (O.F.M.conv)
A Ordem dos Frades Menores Conventuais foi estabelecida em meados do século XIV, precisamente no ano de 1517, como resultado de uma inevitável divisão, causada pela divergência de convicções entre os confrades na Congregação original,  fundada por São Francisco (Ordem dos Frades Menores, ou observantes).  Alguns anos depois,  um outro grupo de frades  separou-se da Ordem dos Frades Menores Conventuais. Tinham por ideal viver estritamente a regra de São Francisco de Assis, dentro do espírito de rigoroso cumprimento da regra original. Estava nascendo a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (1525). Somente no ano de 1619 é que a Santa sé autorizou o grupo a ter governo próprio. 
Apesar das divisões ocorridas naquele período, os franciscanos, pouco depois, longe de estarem divididos ou rivalizados,  juntos cresceram com autonomia própria que, com o pai e fundador comum,   juntos formam a grande família franciscana,  hoje presente no mundo em inúmeras congregações femininas e masculinas, espelhadas no ideal consolidado por São Francisco de Assis.    

3. Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (O.F.M.cap)
A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos,  foi idealizada pelo padre Matteo de Bascio, que julgou que o hábito e a regra habitual dos franciscanos, não condizia com o que havia sido idealizado por São Francisco de Assis.  Após formulado o pedido (1525), o Papa Clemente VII (Giulio de Medici) autorizou-os a  usar  um capucho longo e pontudo e  com estilo condizente às convicções primitivas.  No ano de 1528,  o próprio Papa Clemente, desligou-os da hierarquia que os vinculava, em subordinação,  aos franciscanos conventuais, mas a  autonomia eclesiástica com governo próprio só foi estabelecida no ano de 1619, pontificado de Paulo V (Camilo Borghese).

SEGUNDA ORDEM FRANCISCANA
1. Ordem das Irmãs Clarissas

A Congregação das Irmãs Clarissas pertencem à chamada Segunda Ordem  de São Francisco de Assis.  A Ordem São Francisco teve início em 1209 quando, convertido,  estabeleceu para si próprio vida de intensa vivência do evangelho,  em austera mortificação, penitência e  pobreza. A ele, juntaram-se 12 companheiros, com quem estabeleceu as regras iniciais.   Nesta mesma época, animada pelo mesmo espírito , Santa Clara de Assis  ingressou, por intermédio de São Francisco,  no convento Beneditino de Assis. Posteriormente, foi convidada a fundar uma congregação feminina, cujas monjas passaram a ser conhecidas por  Irmãs Clarissas.  A congregação nunca sofreu mudanças e suas regras refletem o espírito franciscano de vida enclausurada e  contemplativa. Foi o próprio São Francisco, auxiliado por Santa Clara, quem  estabeleceu  as regras monásticas para a nova Ordem, onde Santa Clara iria assumiu como Superiora e Fundadora.

2. Ordem das Irmãs Concepcionistas
A Congregação das Irmãs Clarissas Concepcionistas foi fundada por Santa Beatriz da Silva.  Fazia parte da alta corte de Portugal e, quando jovem, sua extrema formosura despertou a cobiça e gerou rivalidades entre os cortesãos.  Provocou a ira da própria rainha que, enciumada, atentou contra a vida dela, trancando-a num cofre fechado, onde dias depois, foi encontrada ilesa.  Era devotíssima de Maria Santíssima e dotada de todas as virtudes cristãs desde a tenra idade. Incomodada pelos tristes acontecimentos, refugiou-se para um mosteiro de monjas beneditinas, onde permaneceu como hóspede por 30 anos, mas nunca ingressou na congregação, apesar de adotar o mesmo modo de vida das contemplativas.
Isabel, a Católica, ao assumir o trono real,  cedeu propriedades à Santa Beatriz,. tendo fundado, com mais doze companheiras, um mosteiro contemplativo em Santa Fé, escrevendo as regras da então Ordem Contemplativa de Concepção Franciscana, daí o nome de "Concepcionistas".  O Papa Inocênio VII aprovou canonicamente as regras no ano de 1489. Dois anos depois foi a bula papal foi levada solenemente da catedral de Toledo até o mosteiro de Santa Fé. Dias depois, Santa Beatriz  caiu gravemente enferma e faleceu naquele mesmo ano, no dia 17 de agosto.

3. Ordem das Irmãs Capuchinhas
A Congregação das Irmãs Clarissas Capuchinhas foi fundada em Nápoles, no século XVI.

(Todas contemplativas enclausuradas, seguidoras de Santa Clara/ São Francisco de Assis)

TERCEIRA ORDEM FRANCISCANA

1. Terceira Ordem Regular (T.O.R.)
A Terceira Ordem Regular (TOR), foi estabelecida em 1250 e é composta exclusivamente por religiosos e sacerdotes, que seguem as regras de suas constituições franciscanas.

2. Terceira Ordem Secular, ou Ordem Franciscana Secular (O.F.S)
À Ordem Terceira Secular, ou Ordem Franciscana Secular (OFS),  fundada em 1221 por São Francisco, agregaram-se também sacerdotes e religiosos, além dos leigos, casados e solteiros, acima mencionados.  Além de muitas outras famílias franciscanas, pertencem à Ordem Terceira Secular (para leigos e casados) a Fraternidade Sacerdotal Franciscana Secular (FSFS), Pequena Família Franciscana (PFF) e JUFRA (Juventude Franciscana).

REPERCUSSÕES DO FRANCISCANISMO
A Igreja Católica já elegeu 12 papas franciscanos.
Entre os anglicanos existem a Comunidade de São Francisco (para mulheres, fundada em 1905), a Sociedade de São Francisco - SSF (para homens, fundada em 1919 nos EUA e em 1934 na Inglaterra) e a Comunidade de Santa Clara (para mulheres, monástica) e também a Ordem Terceira Franciscana para leigos.
No Brasil existe os Irmãos Franciscanos de Canaã, ligada à Irmandade Evangélica de Maria, em Curitiba, e Franciscanos Anglicanos, membros da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil - IEAB.

SÃO FRANCISCO, UM GIGANTE DA SANTIDADE
A humildade de Francisco não era menor que seu espírito de penitência. Não tolerava palavra em seu louvor.  “Não elogieis a ninguém, enquanto não se lhe souber o seu fim. Ninguém é nada mais e nada menos do que é aos olhos de Deus”.
Perguntado por um dos companheiros sobre o conceito que de si próprio fazia, respondeu: “Julgo não haver no mundo pecador mais indigno que eu”;  e continuou:  “Se Deus, em sua misericórdia tivesse dado ao homem mais perverso as  graças que se dignou  proporcionar a mim, não duvideis que este homem seria muito mais grato e piedoso do que eu”. Foi ainda por humildade que se deteve na ordenação sacerdotal, porque se julgava indigno de ser sacerdote.  Tratava os sacerdotes com todo o respeito e dizia: “Se ao mesmo tempo me encontrasse com um Anjo e um sacerdote, eu beijaria em primeiro lugar a mão deste e depois cumprimentaria o Anjo.  Devo mais respeito àquele que segura nas mãos o Corpo Santíssimo de Jesus Cristo."
Que dizer da pobreza que o santo homem observava e dos seus exigia que observassem? Do seu amor a Deus e ao próximo? Da sua devoção à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, à Santíssima Virgem e a outros Santos, e das demais virtudes, cujos exemplos são tão numerosos, que se encheriam livros narrando-os?
Depois da conversão, Francisco renunciou a toda sorte de propriedade.  Sentia prazer em não possuir coisa alguma e sofrer o sacrifício da pobreza.
“A pobreza – dizia – é o caminho da salvação, o fundamento da humildade, a raiz da perfeição. Produz frutos escondidos, mas que se multiplicam de mil maneiras”. A pobreza era sua senhora, rainha, mãe e esposa. A Deus pedia instantemente que fosse sua herança e privilégio.
Na oração, nos transportes do amor, não achava outra expressão, a não ser esta:  “Meu Deus e meu tudo!”  Conversando sobre Deus, refletia-se-lhe no semblante a mais pura alegria. O amor ao próximo impelia-o a servir aos doentes, a socorrer os necessitados, a consolar os aflitos. O desejo de converter os infiéis, de derramar o sangue por amor de Deus, levou-o a empreender penosa viagem até à Síria e apresentar-se ao Sultão de Icônia, como pregador de penitência.
A devoção a Francisco à Sagrada Paixão e morte de Nosso Senhor foi tão extraordinária, que Deus quis recompensá-lo com um milagre inaudito.  Dois anos antes da morte, Francisco praticou, segundo o costume, o jejum quaresmal em preparação à festa de S. Miguel, e para este fim se retirara ao Monte Alverne. No dia da exaltação da Santa Cruz, arrebatado em êxtase,  viu que do céu descia um luminoso Serafim.  O Anjo tinha seis asas e Francisco reconheceu nele a figura de Nosso Senhor crucificado, com as  cinco chagas.  Ao mesmo tempo, o Santo homem  sentiu no lado, nas mãos e nos pés chagas iguais,  que destilavam umas  gotas de sangue. Estes sinais ficaram até a morte. Embora Francisco procurasse escondê-las cuidadosamente,  não o conseguiu.  Foram-lhe vistas no corpo, vivo e morto. Estas chagas causaram-lhe grandes dores, mas Francisco julgou-se venturoso em poder sofrer com o Salvador.
Dois anos depois desta visão, Francisco caiu gravemente doente. Sentindo a morte aproximar-se, fez se transportar para a igreja de Porciúncula onde, deitado sobre o chão, recebeu com muita devoção os santos Sacramentos, entregando logo depois a alma a Deus.
Antes de expirar, recomendou aos irmãos da Ordem a fiel observância da regra e dando-lhes a bênção, disse: “Ficai firmes no temor de  Deus e nele perseverai! Bem-aventurados aqueles que perseveram na obra começada. Vou para Deus e  recomendo-vos à sua benevolência”.
Tendo assim falado, quis que lhe lessem os capítulos da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, do Evangelho de São João. Terminada esta leitura, começou ele mesmo a recitação do Salmo 141, até as palavras: “Tirai a nossa alma do cárcere, para que eu louve o Vosso nome. Os justos, estão à minha espera, para que me deis a recompensa!” Foram-lhe estas as últimas expressões.
São Francisco morreu no ano de 1226, na idade de 45 anos. Muito antes tivera a revelação do perdão completo dos seus pecados. Em outra ocasião, lhe foi assegurada sua eterna salvação. Embora estas revelações lhe servissem de grande consolo, nem por isto quis atenuar o rigor da penitência e deixar de chorar os pecados.  “Suposto que tivesse cometido o mais leve pecado e  isto só uma vez, motivo teria de sobra de chorá-lo toda a minha vida”.
Muitos e grandes milagres fez São Francisco antes e depois da morte. O Papa Gregório IX canonizou-o, em 16 de julho de 1228.
O corpo de São Francisco repousa debaixo do altar-mor da catedral de Assis. Por uma permissão especial de Deus, aconteceu que, durante seis séculos ficasse ignorado o jazigo das santas relíquias. Em 1818 foram encontradas e autenticamente reconhecidas.
 
OS VALORES DA ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA

1. Espiritualidade evangélica
'A vida e a regra' franciscana é o próprio evangelho; vida de conversão para o evangelho.
2. Vida em fraternidade
'Deus me deu irmãos' - a fraternidade, entre irmãos e irmãs, que Deus nos deu, com todas as pessoas e com todas as criaturas.
3. Espiritualidade trinitária
Deus é o Sumo Bem; o Filho nosso irmão; o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar. Maria, o modelo: filha, mãe e esposa.
4. Sem nada de próprio
Seguir o Cristo pobre é a condição do nosso caminho. Livre para amar e servir, retirando tudo o que se interpõe entre as pessoas. O modelo é a encarnação do Verbo.
5. A minoridade
'Servo de toda humana criatura'; o serviço do lava-pés; a 'autoridade' evangélica.
6. A espiritualidade do trabalho
A 'graça' de trabalhar; trabalhar com as 'próprias mãos' constrói a fraternidade; trabalhar como menores; trabalhar com 'devoção' afugenta o ócio, inimigo da alma.
7. A contemplação franciscana
O espírito de oração e devoção que abrange toda a vida e a vida toda; rezar sempre e rezar a vida; rezar no mundo e no conflito. O eremitério e a solidão.
8. A evangelização franciscana
Evangelizar e deixar-se evangelizar; o 'evangelho vivo' do seguimento é dom da vocação que se prolonga em missão; a fraternidade é o 'coração' da evangelização.
9. Espiritualidade eclesial e católica
A fraternidade vivida no seio da Igreja é célula eclesial, integrada nos serviços e nos ministérios da Igreja. Católico: experimentar Deus e a sua graça em todo tempo e lugar.
10. A perfeita e verdadeira alegria
Acolher, integrar e transformar o 'negativo' da vida. A cruz, fonte da verdadeira alegria.

SANTA CLARA, FIEL À POBREZA
Em 1215, quando Francisco obrigou Clara a aceitar a Regra beneditina, para cumprir a determinação do IV Concílio de Latrão. Esta Regra previa a posse de bens para o mosteiro.
Para Clara, não se tratava de um detalhe. Aceitar propriedades significava desfigurar todo o projeto. Por isso, buscou uma saída de forma criativa e inusitada. Foi ao papa e lhe pediu uma bula que garantisse ao mosteiro de São Damião o direito de não possuir bens. Inocêncio III achou estranho o pedido daquela jovem de 22 anos. Mas lhe concedeu o documento, que foi chamado de “Privilégio da Pobreza”.

EPISÓDIOS IMPORTANTES DA VIDA DE SÃO FRANCISCO

1181-1182 Nasce Francisco. Em Assis, filho do comerciante burguês Pedro Bernardone e Dona Picá.
1205 Querendo tornar-se cavaleiro, junta-se ao exército papal e vai para a guerra na Apúlia (Puglia). Em Spoleto, tem uma visão em sonho e volta para Assis: “Quem te pode ser mais útil: o senhor ou o servo? Então, por que preferes o servo ao senhor?”
1205 Francisco está num período de muita reflexão e oração. Certa ocasião, vê um leproso que vem em sua direção. Vencendo o horror que tinha por esta doença e pelos seus doentes, vai ao seu encontro e trata-o com carinho. Este evento é registrado pelo próprio Francisco como importantíssimo para a sua conversão.
1205 Rezando na igreja de São Damião, ouve um pedido: “Francisco, vai, reconstrói minha casa que está em ruínas”. Levando a mensagem ao pé da letra, restaura as igrejinhas abandonadas de São Damião, São Pedro e Porciúncula.
1206 Processado pelo pai, Francisco, na praça da cidade e em frente ao bispo devolve-lhe tudo o que tinha e que havia recebido do pai; ficando nu perante todos. “De agora em diante poderei dizer livremente: Pai Nosso que estais nos Céus, não pai Pedro Bernadone.”
1208 Depois de ouvir a explicação do Evangelho do envio apostólico (Mt 10, 1. 5-13), Francisco afirma: “É isto que eu quero!” Deixa as vestes de eremita, passa a usar um hábito rude e torna-se um pregador itinerante. Após algum tempo, recebe os primeiros companheiros.
1209 Francisco escreve uma pequena regra. Vai a Roma com onze companheiros, é recebido pelo Papa Inocêncio III que aprova oralmente a regra.
1211-1212 A comunidade vai crescendo e consolidando-se, instala-se na Porciúncula. Na noite do Domingo de Ramos, Clara foge de casa para seguir a vida de Francisco. Mesmo com a oposição da família, Inês (irmã de Clara)‏ também se junta ao grupo e assim inicia-se a 2ª Ordem.
1219 Os franciscanos empreendem grandes missões no exterior (Alemanha, França, Hungria, Espanha, Marrocos). Francisco vai ao Egito e encontra-se com o Sultão Malek-el-Kamel.
1221 A aprovação do Memoriale Propositi é considerada a fundação da Ordem Franciscana Secular. Na OFS podem ingressar pessoas casadas que desejam seguir a vida franciscana.
1223 O Papa Honório III emite bula aprovando a regra franciscana que estava sendo aperfeiçoada desde 1209 durante capítulos realizados anualmente. Esta regra conhecida como Regra bulada está em vigor até hoje. Também se conhece um texto anterior denominado de Regra não-bulada.
1223 Celebra o Natal com o povo em Greccio diante de um presépio. Por causa desta celebração muitos consideram Francisco de Assis o inventor do presépio.
1224 Francisco e Frei Leão vão ao Monte Alverne para a Quaresma de São Miguel. Na festa da Exaltação da Santa Cruz, 14 de setembro, Francisco vê o serafim alado e crucificado, durante esta visão recebe os estigmas de Jesus Crucificado.
1225 Com uma doença nos olhos, fica junto ao mosteiro de Clara em São Damião. Compõe boa parte do Cântico do Irmão Sol ou Cântico das Criaturas .
1225-1226 Por obediência submete-se a dolorosos tratamentos em Assis, Rieti, Fonte Colombo, Sena e outros locais. Dentre estes tratamentos a cauterização pelo fogo. Sentindo a aproximação da irmã morte, pede para ser levado à Porciúncula, da planície abençoa Assis.
1226 Na Porciúncula dita seu Testamento. 3 de outubro: Percebendo cada vez mais a aproximação da irmã morte, pede para ser colocado nu na terra nua, acaba aceitando usar o hábito do guardião. Pede que leiam o Evangelho da Última Ceia, abençoa os irmãos presentes e futuros, morre cantando.
1228 Gregório IX canoniza-o. 
                                                                                       REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 13/06/2012


quarta-feira, 6 de junho de 2012

BATISMO E SEUS EFEITOS


                                                                                                                                                       LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: O SACRAMENTO DO BATISMO E SEUS EFEITOS

"Ide, pois, fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20).

                                BATISMO: SELO INDELÉVEL DE DEUS

“O "selo do Senhor" ("Dominicus character") é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou "para o dia da redenção" (Ef 4,30). "O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna." O fiel que tiver "guardado o selo" até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá caminhar "marcado pelo sinal da fé", com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus - consumação da fé - e na esperança da ressurreição.” (CIC 1274)

             O ÚNICO SACRAMENTO INDISPENSÁVEL PARA A SALVAÇÃO

Na tradicional relação estabelecida por São Tomás, o Batismo, novo nascimento espiritual, é o primeiro dos sete Sacramentos. Mas ele o é também do ponto de vista da necessidade, pois é o único Sacramento indispensável para cada um de nós, individualmente, alcançarmos a Bem-aventurança eterna.
Assim o afirma com toda precisão o próprio São Tomás: "É pois, claro, que todos são obrigados ao Batismo e que, sem ele, não pode haver salvação para os homens". E mais bela e claramente ainda o próprio Nosso Senhor: "Se alguém não renasce na água e no Espírito Santo, não pode entrar no Reino dos Céus" (Jo 3, 5).
Ora, "convém à misericórdia de quem ‘quer que todos os homens se salvem', que permita encontrar-se facilmente o remédio para a salvação". Daí que a matéria do Batismo seja uma matéria comum, a água, que qualquer um pode obter. E daí também que o ministro do Batismo, em circunstâncias excepcionais, possa ser qualquer pessoa, mesmo um não ordenado, homem ou mulher, e até mesmo um herege ou um pagão. Para o Sacramento ser válido, a Igreja só exige que seja utilizada a matéria do Sacramento, observada a forma e aplicada a intenção de fazer o que Ela própria faz, abstraindo de qualquer heresia ou infidelidade.

                                  BATISMO E PECADO ORIGINAL

Convém não esquecer que a necessidade    deste   Sacramento, conforme explica Besson, "é consequência dos efeitos do Pecado Original e das restituições prometidas pelo Homem-Deus".
Cada um de nós pecou em Adão, e a morte entrou em nossa alma com o pecado; do mesmo modo, cada um de nós foi salvo no novo Adão, e para que a vida dEle entre na nossa alma é preciso que recebamos a graça do Batismo.
Por isso, pouco tempo após seu nascimento, a criança é levada às fontes batismais por um padrinho que responde por sua Fé, e curva sob a água santa sua fronte ainda marcada com o pecado original. Consumado o rito, a criança ergue-se livre, inocente e imaculada, com o indelével sinete da ordem sobrenatural. Era escrava, e seus grilhões foram quebrados; estava morta, e foi ressuscitada.

                          A PAIXÃO DE CRISTO É COMUNICADA AO NEÓFITO

As consequências desta doutrina têm um alcance maior do que se pensa, a ponto de São Paulo afirmar que pelo Batismo, o crente comunga na morte de Cristo, é sepultado e ressuscita com Ele. Sobre isto, comenta São Tomás: "Pelo Batismo somos incorporados na Paixão e Morte de Cristo. Diz Paulo: ‘Se estamos mortos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele'.
Demonstra-se assim que a todo batizado a Paixão de Cristo é comunicada para servir de remédio, como se ele próprio tivesse sofrido e morrido. Ora, a Paixão de Cristo é satisfação suficiente para todos os pecados de todos os homens. Por isso, quem é batizado, é liberto do reato de toda pena devida por seus pecados, como se ele próprio tivesse oferecido uma satisfação suficiente por todos os seus pecados".

                    QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS EFEITOS DESSE SACRAMENTO?

Em seu livro Somos hijos de Dios, o padre Royo Marín enumera sete, com a precisão própria do teólogo. O Catecismo da Igreja Católica, sob uma focalização mais pastoral, afirma serem principalmente dois: a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo.
Pouco há a afirmar em relação ao primeiro deles, senão que a purificação é tão completa que "todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas do pecado".
Mas além de assim limpar a alma, este Sacramento "faz do neófito uma criatura nova, um filho adotivo de Deus que se tornou participante da natureza divina, membro de Cristo e co-herdeiro com Ele, templo do Espírito Santo".
Com efeito, o Batismo nos torna membros do Corpo de Cristo e nos incorpora à Igreja. Através dele, a vida de Jesus Cristo circula em todo o Corpo, levando Sua graça capital a todos os membros e permitindo-lhes alcançar a graça e as virtudes: "Da cabeça que é Cristo deriva sobre Seus membros a plenitude da graça e da virtude, conforme o Evangelho de João: ‘De Sua plenitude todos nós recebemos' (Jo 1, 16)".
Assim, na ordem da satisfação, da redenção, do mérito, da oração, do sacerdócio: tudo se tornou comum entre Jesus Cristo e nós, porquanto a Igreja inteira, Corpo Místico de Jesus Cristo, pode ser considerada como uma só pessoa com Ele, conforme ensina São Tomás de Aquino.

                           SETE MARAVILHOSOS EFEITOS DO BATISMO

O Sacramento do Batismo produz, naquele que o recebe, uma série de divinas  maravilhas. Eis as principais:
1) Infunde a graça santificante, com o matiz especial de graça regenerativa, que é a própria do batizado, tornando- o capaz para a recepção dos demais Sacramentos.
2) Converte o batizado em templo vivo da Santíssima Trindade, pela divina inabitação em todas as almas em estado de graça.
3) Infunde o germe de todas as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo.
4) Torna-o membro vivo de Jesus Cristo, como ramo da divina Videira (Jo 15, 5).
5) Imprime o caráter batismal, o qual o torna membro vivo do Corpo Místico de Jesus Cristo, que é a Igreja, e lhe dá uma participação real e verdadeira (embora incompleta) no sacerdócio de Jesus Cristo. Esta participação sacerdotal se aperfeiçoa com o caráter do Sacramento da Confirmação e se completa com o caráter do Sacramento da Ordem.
6) Apaga totalmente da alma o pecado original e todos os pecados atuais, antes cometidos; esses pecados não são apenas cobertos, mas apagados de fato, e de forma definitiva. Assim o definiu expressamente o Concílio de Trento (D n. 792).
7) Perdoa toda a pena devida pelos pecados, tanto a temporal como a eterna. De modo que se um pecador recebe o Batismo no momento da morte, entra imediatamente no Céu, sem passar pelo Purgatório. Foi o que ensinou o Concílio de Florença (D n. 696) e o de Trento definiu (D n. 792).

                                             SOMOS FILHOS DE DEUS

Mas talvez o mais tocante e assombroso efeito do Batismo seja produzir a filiação divina.
Deus tem apenas um filho segundo a Sua natureza, que é o Verbo Encarnado. Só a Ele o Pai transfere eternamente a natureza divina em toda a sua infinita plenitude. Porém, a graça santificante - que é um dos efeitos do Batismo - confere aos neófitos uma participação real e verdadeira nessa filiação "por uma adoção intrínseca, a qual põe em nossa alma, física e formalmente, uma realidade absolutamente divina, que faz circular o próprio sangue de Deus nas veias de nossa alma. Graças a este enxerto divino, a alma se faz participante da mesma vida de Deus. Trata-se de uma verdadeira geração espiritual, um nascimento sobrenatural que imita a geração natural e recorda, por analogia, a geração eterna do Verbo de Deus".
Em uma palavra, a graça santificante, para a qual o Batismo nos abre as portas, não nos dá apenas o direito de nos chamarmos filhos de Deus, senão que nos faz tais em realidade. "Inefável maravilha - conclui o padre Royo Marín - que pareceria inacreditável se não constasse expressamente na divina Revelação".

O BATISMO NOS CONFERE A GRAÇA DE SERMOS SACERDOTES, PROFETAS E REIS

                                                          1) Sacerdotes
O Código de Direito Canônico da Igreja, quando legisla sobre o ‘‘Povo de Deus’‘, diz que:
‘‘Fiéis são os que incorporados a Cristo pelo Batismo, foram constituídos como povo de Deus e assim, feitos participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, são chamados a exercer, segundo a condição própria de cada um, a missão que Deus confiou para a Igreja cumprir no mundo’‘ (CDC,cân.204).
Jesus foi constituído por Deus Pai como ‘‘Sacerdote, Profeta e Rei ‘‘. E como Ele se fez, pela Encarnação, a Cabeça da Igreja, todo o povo de Deus, por Ele, passou a participar dessas três funções do Salvador e, consequentemente, assumimos com Ele a responsabilidade da missão salvífica da humanidade, com todo o serviço do Reino. Deus Pai quis dar-nos a honra de participarmos com Cristo da obra de salvação da humanidade. Inseridos em Cristo pelo Batismo, nos fazemos um com Ele e, portanto, co-responsáveis pela sua missão redentora. O Reino a ser implantado no mundo também é nosso, e Deus quis que cada um de nós participasse da mesma alegria dos anjos quando o pecador volta arrependido para a casa do Pai.
Esse povo tem, portanto, uma vocação sacerdotal. Cada batizado é chamado a participar do mesmo sacerdócio de Cristo. Ele é verdadeiramente o Pontífice (ponte), ‘‘o único mediador entre Deus e os homens’‘ (1 Tm 2,5); mas, pela nossa inserção Nele, no Seu Corpo, pela Igreja e pelo Batismo, Ele fez do novo povo ‘‘um reino de sacerdotes’‘.
Esse sacerdócio ‘‘comum’‘ que todo batizado exerce, diferente do sacerdócio ministerial do presbítero, se realiza por toda a sua atividade cristã, oferecendo-se a si mesmo a Deus como uma hóstia viva, como disse São Paulo:
‘‘Eu vos exorto, pois, irmãos pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual’‘ (Rom 12,1).
Tanto o sacerdócio comum dos leigos como o sacerdócio ministerial (hierárquico) dos ordenados, embora diferentes na essência, contudo, ‘‘participam, cada qual a seu modo do sacerdócio único de Cristo’‘ (LG ,10).
O sacerdote, na Antiga Aliança, era aquele que, em nome do povo, oferecia os sacrifícios e ofertas a Deus pelo pecado do povo. Na Nova Aliança, Jesus se fez o Sumo Sacerdote, e não mais ofereceu sacrifícios a Deus, mas ofereceu-se a Si mesmo ao Pai, já que nenhum outro sacrifício seria suficiente para reparar a ofensa que o pecado realiza contra a Majestade de Deus. Nesta linha, ao unir-nos a Ele, Cristo nos faz sacerdotes como Ele, isto é, chamados a nos oferecermos com Ele e como Ele, como vítimas ao Pai. Por isso somos convidados a sermos hóstias vivas, pela renúncia a nós mesmos, e a disposição de tomarmos, a cada dia, a mesma cruz de Cristo, para salvar o mundo. Podemos dizer assim, como Santa Teresa D’Ávila já dissera, que o Senhor nos dá a honra de carregar com Ele a cruz redentora do mundo, e não é a todos que concede esse privilégio.
A grande francesa Martin Robin, que viveu cerca de cinquenta anos em uma cama, alimentando-se apenas da Eucaristia, disse certa vez que:
‘‘Cada alma cristã é uma hóstia, e cada vida cristã uma Missa’‘.
Cada cristão, leigo ou clérigo, vivendo com fidelidade a Cristo e à Igreja, no seu estado de vida, é um verdadeiro sacerdote e, com Cristo, salva o mundo para Deus.
O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que é investido, atua na pessoa de Cristo (‘‘in persona Christi’‘), dirige o Povo de Deus, celebra o sacrifício eucarístico e perdoa os pecados. Mas os leigos, pelo sacerdócio comum também participam do oferecimento do sacrifício de Cristo ao Pai na Eucaristia. Ao mesmo tempo oferecem Cristo ao Pai, junto com o sacerdote ministerial, e se oferecem a si mesmos com Cristo. Só seremos verdadeiramente cristãos quando tivermos compreendido e assumido a missão redentora com Cristo.

                                                        2) Profetas
A Igreja participa também da missão profética de Cristo, dando testemunho d’Ele vivo, no meio deste mundo.
Pelos dons do Espírito Santo, cada um exerce o seu serviço para a edificação da Igreja e construção do Reino de Deus. São Paulo ensina que o Espírito Santo ‘‘distribui a cada um, como quer’‘, os seus dons (1 Cor 12,11) e que ‘‘a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum’‘ ( 1 Cor 12,7). Todos os cristãos são chamados, sem exceção, a exercer no Corpo de Cristo uma missão profética e missionária pela ação do Espírito.
Especialmente o leigo é aquele ‘‘que leva a Igreja ao coração do mundo, e traz o mundo ao coração da igreja’‘. Torna-se assim, profeta com Cristo. Por isso, todo batizado é um missionário, um anunciador do Reino de Deus, como dizia São Francisco de Assis, um ‘‘arauto do grande Rei’‘, ‘‘a trombeta do Imperador’‘. Vale também para cada um de nós, na medida própria, o que o Apóstolo dizia a si mesmo: ‘‘Ai de mim se eu não evangelizar’‘(1Cor 9,16).
A missão da Igreja é evangelizar.
O Povo de Deus participa ainda da função régia de Cristo, que reina sobre todos aqueles que atraiu para si pela sua morte e Ressurreição.
‘‘E quando eu for levantado da terra atrairei todos os homens a mim’‘ (Jo 12,32).

                                                               3) Reis
Cristo é Rei e Senhor do universo, mas o Seu Reino ‘‘não é deste mundo’‘ (Jo 19,36). Jesus repetiu isso a Pilatos duas vezes.
Em que consiste o reinado de Cristo neste mundo, então?
O seu reinado consistiu em servir.
‘‘Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgate de muitos’‘ (Mt 20,28).
Desde então, a Igreja aprendeu com o seu Mestre que ’‘reinar é servir’‘, como ensina a ‘‘Lumen Gentium’‘ (LG, 36).
É porque Cristo foi obediente ao Pai até à morte, que foi exaltado pelo mesmo Pai e entrou na glória do Seu Reino; e todas as coisas lhe foram submetidas.
‘‘Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o Nome que está acima de todos os nomes’‘ (Fil 2,9).
‘‘... porque Deus sujeitou tudo debaixo dos seus pés’‘ (1 Cor 15,26).

REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 06/06/2012