LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO
“Onde
está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja, está Cristo”.
DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA A ACEITAÇÃO DE UMA
VERDADE ABSOLUTA
O perene
anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole
relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso. Daí que se
considerem superadas, por exemplo, verdades como:
- o caráter
definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo,
- o caráter
inspirado dos livros da Sagrada Escritura,
- a
unidade pessoal entre o Verbo eterno e Jesus de Nazaré,
- a
unicidade e universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo,
- a
mediação salvífica universal da Igreja,
- a não separação,
embora com distinção, do Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja,
- a
subsistência na Igreja Católica da única Igreja de Cristo.
Na raiz
destas afirmações encontram-se certos pressupostos, de natureza tanto
filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da
verdade revelada. Podem indicar-se alguns:
- a
convicção de não se poder alcançar nem exprimir a verdade divina, nem mesmo
através da revelação cristã;
- uma atitude relativista perante a verdade,
segundo a qual, o que é verdadeiro para alguns não o é para outros;
- a
dificuldade de ver e aceitar na história a presença de acontecimentos
definitivos;
- a tendência, enfim, a ler e interpretar a
Sagrada Escritura à margem da Tradição e do Magistério da Igreja.
Na base
destes pressupostos, que se apresentam com matizes diferentes, por vezes como
afirmações e outras vezes como hipóteses, elaboram-se
propostas teológicas, em que a revelação cristã e o mistério de Jesus Cristo e
da Igreja perdem o seu caráter de verdade absoluta e de universalidade
salvífica, ou ao menos se projeta sobre elas uma sombra de dúvida e de
insegurança.
DEUS SE REVELA DE MANEIRA PLENA E
DEFINITIVA POR MEIO DE JESUS CRISTO
É contrária
à fé da Igreja a tese que defende o caráter limitado, incompleto e imperfeito
da revelação de Jesus Cristo, que seria complementar da que é presente nas
outras religiões.
A verdade sobre Deus não é abolida nem
diminuída pelo fato que é proferida numa linguagem humana. É, invés,
única, plena e completa, porque quem fala e atua é o Filho de Deus Encarnado.
Daí a exigência da fé em se professar que o Verbo feito carne é, em todo o seu
mistério que vai da encarnação à glorificação, a fonte, participada mas real, e
a consumação de toda a revelação salvífica de Deus à humanidade, e que o
Espírito Santo, que é o Espírito de Cristo, ensinará aos Apóstolos e, por meio
deles, à Igreja inteira de todos os tempos, esta « verdade total » (Jo 16, 13).
Por isso,
o Concílio Vaticano II, referindo-se aos modos de agir, aos preceitos e
doutrinas das outras religiões, afirma que, « embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que [a
Igreja] afirma e ensina, muitas vezes refletem um raio daquela Verdade, que
ilumina todos os homens ».
DONDE VEM A NECESSIDADE DA IGREJA PARA
NOSSA SALVAÇÃO
O Senhor
Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas
constituiu a Igreja como mistério salvífico:
Ele mesmo está na Igreja e a Igreja
n'Ele (cf. Jo 15,1ss.; Gal 3,28; Ef 4,15-16; Atos 9,5); por isso, a
plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, unida de modo inseparável ao seu Senhor.
Jesus Cristo, com efeito, continua a estar presente e a operar a salvação na Igreja e através da Igreja (cf. Col 1,24-27), que
é o seu Corpo (cf. 1 Cor 12,12-13.27; Col 1,18). E, assim como a cabeça e os
membros de um corpo vivo, embora não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo
e a Igreja não podem confundir-se nem mesmo separar-se, constituindo um único « Cristo total ». Uma tal
inseparabilidade é expressa no Novo Testamento também com a analogia da Igreja
Esposa de Cristo (cf. 2 Cor 11,2; Ef 5,25-29; Ap 21,2.9).
Assim, e
em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus
Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da
Igreja por Ele fundada. Como existe um
só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: « uma só
Igreja católica e apostólica ». Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca
abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito
(cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem
como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.
Os fiéis
são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na
sucessão apostólica — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: «
Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua
ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a
Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.);
levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1 Tim 3,15). Esta
Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada
pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele ».
Afirma o
Vaticano II:
- A Igreja
de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica
- Existem
numerosos elementos de santificação e de
verdade fora da sua composição , isto é, nas Igrejas e Comunidades
eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca
destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma plenitude da
graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica ».
Existe,
portanto, uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica,
governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas
que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm
unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma
válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por isso, também
nestas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a
plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica
do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce
sobre toda a Igreja.
As
Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a
genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em
sentido próprio. Os que, porém, foram batizados nestas Comunidades estão pelo
Batismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem
que imperfeita, com a Igreja.
Antes de
mais, deve crer-se firmemente que a «
Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é
mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que
é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do
Batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal
como por uma porta ». Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica
universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas
duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens,
e a necessidade da Igreja para essa salvação ».
A Igreja é
« sacramento universal de salvação
», porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo
Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a
salvação de cada homem. Para aqueles que não são formal e visivelmente membros
da Igreja, « a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça
que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os
introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior
e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada
pelo Espírito Santo ». Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez « tem a
sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio
de Deus Pai
O PERIGO DO RELATIVISMO RELIGIOSO
Com a
vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus
quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a
humanidade (cf. At 17,30-31). Esta verdade de fé nada tira ao fato de a
Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo
tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar
que “tanto vale uma religião como outra” ». Se é verdade que os adeptos das
outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente
se encontram numa situação gravemente
deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos
meios de salvação. Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja
que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a
uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por
pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais
severo ». Pelo
que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja
católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo,
ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.
Compreende-se,
portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como
exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de
anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo
14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus
reconciliou todas as coisas consigo ».
(Declaração Dominus Iesus, da Congregação
para a Doutrina da Fé, que tinha como prefeito da época o então Cardeal Joseph
Ratzinger)
RELAÇÃO DA IGREJA COM OS CRISTÃOS
NÃO-CATÓLICOS
Por isso,
as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de
forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da
salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de
salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à
Igreja Católica.
Com
efeito, os elementos de santificação e de verdade presentes nas outras
Comunidades cristãs, em grau variável duma para outra, constituem a base
objetiva da comunhão, ainda imperfeita, que existe entre elas e a Igreja
Católica.
Na medida
em que tais elementos se encontram nas outras Comunidades cristãs, a única
Igreja de Cristo tem nelas uma presença
operante.
Já desde
agora, é possível individuar os argumentos que ocorre aprofundar para se
alcançar um verdadeiro consenso de fé:
1) as relações entre Sagrada
Escritura, suprema autoridade em matéria de fé, e a Sagrada Tradição,
indispensável interpretação da palavra de Deus;
2) a Eucaristia, sacramento do Corpo e
do Sangue de Cristo, oferta de louvor ao Pai, memória sacrifical e presença
real de Cristo, efusão santificadora do Espírito Santo;
3) a Ordem, como sacramento, para o
tríplice ministério do episcopado, do presbiterado e do diaconado;
4) o Magistério da Igreja, confiado ao
Papa e aos Bispos em comunhão com ele, concebido como responsabilidade e
autoridade em nome de Cristo para o ensino e preservação da fé;
5) a Virgem Maria, Mãe de Deus e Ícone
da Igreja, Mãe espiritual que intercede pelos discípulos de Cristo e pela
humanidade inteira.
(João
Paulo II, Ut unum
sint, sobre o Empenho Ecumênico)
RELAÇÃO DA IGREJA COM OS NÃO-CRISTÃOS
Finalmente,
aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados
para o Povo de Deus. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as
promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cfr. Rom. 9, 4-5), povo que
segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o
chamamento de Deus são irrevogáveis (cfr. Rom. 11, 28-29). Mas o desígnio da
salvação estende-se também àqueles que reconhecem
o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam
seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que
há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe
daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já
que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais e, como Salvador, quer
que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo,
e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com
coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua
vontade, manifestada pelo ditame da consciência,
também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os
auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao
conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por
levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado
pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que
ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes,
os homens, enganados pelo demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam
a verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador,
ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação
final.
Por
isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja,
lembrada do mandato do Senhor: «pregai o
Evangelho a toda a criatura» (Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar
as missões.
(Constituição
Dogmática Lumen Gentium sobre
a Igreja, Papa Paulo VI)
“Quem se aparta da confissão da verdade, muda de caminho e o
percurso inteiro se torna afastamento. Tanto mais próximo da morte estará
quanto mais distante da luz católica.” (São Leão Magno, papa e doutor da
Igreja)
REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 23/05/2012
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