quarta-feira, 23 de maio de 2012

FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO


       LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO

“Onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja, está Cristo”.

DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA A ACEITAÇÃO DE UMA VERDADE ABSOLUTA

O perene anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso. Daí que se considerem superadas, por exemplo, verdades como:
- o caráter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo,
- o caráter inspirado dos livros da Sagrada Escritura,
- a unidade pessoal entre o Verbo eterno e Jesus de Nazaré,
- a unicidade e universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo,
- a mediação salvífica universal da Igreja,
- a não separação, embora com distinção, do Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja,
- a subsistência na Igreja Católica da única Igreja de Cristo.

Na raiz destas afirmações encontram-se certos pressupostos, de natureza tanto filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da verdade revelada. Podem indicar-se alguns:
- a convicção de não se poder alcançar nem exprimir a verdade divina, nem mesmo através da revelação cristã;
- uma atitude relativista perante a verdade, segundo a qual, o que é verdadeiro para alguns não o é para outros;
- a dificuldade de ver e aceitar na história a presença de acontecimentos definitivos;
- a tendência, enfim, a ler e interpretar a Sagrada Escritura à margem da Tradição e do Magistério da Igreja.

Na base destes pressupostos, que se apresentam com matizes diferentes, por vezes como afirmações e outras vezes como hipóteses, elaboram-se propostas teológicas, em que a revelação cristã e o mistério de Jesus Cristo e da Igreja perdem o seu caráter de verdade absoluta e de universalidade salvífica, ou ao menos se projeta sobre elas uma sombra de dúvida e de insegurança.

DEUS SE REVELA DE MANEIRA PLENA E DEFINITIVA POR MEIO DE JESUS CRISTO

É contrária à fé da Igreja a tese que defende o caráter limitado, incompleto e imperfeito da revelação de Jesus Cristo, que seria complementar da que é presente nas outras religiões.
A verdade sobre Deus não é abolida nem diminuída pelo fato que é proferida numa linguagem humana. É, invés, única, plena e completa, porque quem fala e atua é o Filho de Deus Encarnado. Daí a exigência da fé em se professar que o Verbo feito carne é, em todo o seu mistério que vai da encarnação à glorificação, a fonte, participada mas real, e a consumação de toda a revelação salvífica de Deus à humanidade, e que o Espírito Santo, que é o Espírito de Cristo, ensinará aos Apóstolos e, por meio deles, à Igreja inteira de todos os tempos, esta « verdade total » (Jo 16, 13).
Por isso, o Concílio Vaticano II, referindo-se aos modos de agir, aos preceitos e doutrinas das outras religiões, afirma que, « embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que [a Igreja] afirma e ensina, muitas vezes refletem um raio daquela Verdade, que ilumina todos os homens ».

DONDE VEM A NECESSIDADE DA IGREJA PARA NOSSA SALVAÇÃO

O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico: Ele mesmo está na Igreja e a Igreja n'Ele (cf. Jo 15,1ss.; Gal 3,28; Ef 4,15-16; Atos 9,5); por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, unida de modo inseparável ao seu Senhor. Jesus Cristo, com efeito, continua a estar presente e a operar a salvação na Igreja e através da Igreja (cf. Col 1,24-27), que é o seu Corpo (cf. 1 Cor 12,12-13.27; Col 1,18). E, assim como a cabeça e os membros de um corpo vivo, embora não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo e a Igreja não podem confundir-se nem mesmo separar-se, constituindo um único « Cristo total ». Uma tal inseparabilidade é expressa no Novo Testamento também com a analogia da Igreja Esposa de Cristo (cf. 2 Cor 11,2; Ef 5,25-29; Ap 21,2.9).
Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: « uma só Igreja católica e apostólica ». Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.
Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: « Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1 Tim 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele ».

Afirma o Vaticano II:
- A Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica
- Existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição , isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica ».
Existe, portanto, uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por isso, também nestas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce sobre toda a Igreja.
As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram batizados nestas Comunidades estão pelo Batismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja.

Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal como por uma porta ». Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação ».
A Igreja é « sacramento universal de salvação », porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem. Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, « a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo ». Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez « tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai 

O PERIGO DO RELATIVISMO RELIGIOSO

Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. At 17,30-31). Esta verdade de fé nada tira ao fato de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ». Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação. Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo ».  Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.
Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo ».

(Declaração Dominus Iesus, da Congregação para a Doutrina da Fé, que tinha como prefeito da época o então Cardeal Joseph Ratzinger)

RELAÇÃO DA IGREJA COM OS CRISTÃOS NÃO-CATÓLICOS

Por isso, as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja Católica.
Com efeito, os elementos de santificação e de verdade presentes nas outras Comunidades cristãs, em grau variável duma para outra, constituem a base objetiva da comunhão, ainda imperfeita, que existe entre elas e a Igreja Católica.
Na medida em que tais elementos se encontram nas outras Comunidades cristãs, a única Igreja de Cristo tem nelas uma presença operante.

Já desde agora, é possível individuar os argumentos que ocorre aprofundar para se alcançar um verdadeiro consenso de fé:
1) as relações entre Sagrada Escritura, suprema autoridade em matéria de fé, e a Sagrada Tradição, indispensável interpretação da palavra de Deus;
2) a Eucaristia, sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, oferta de louvor ao Pai, memória sacrifical e presença real de Cristo, efusão santificadora do Espírito Santo;
3) a Ordem, como sacramento, para o tríplice ministério do episcopado, do presbiterado e do diaconado;
4) o Magistério da Igreja, confiado ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, concebido como responsabilidade e autoridade em nome de Cristo para o ensino e preservação da fé;
5) a Virgem Maria, Mãe de Deus e Ícone da Igreja, Mãe espiritual que intercede pelos discípulos de Cristo e pela humanidade inteira.

(João Paulo II, Ut unum sint, sobre o Empenho Ecumênico)

RELAÇÃO DA IGREJA COM OS NÃO-CRISTÃOS

Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados para o Povo de Deus. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cfr. Rom. 9, 4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cfr. Rom. 11, 28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens, enganados pelo demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador, ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação final.
Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor: «pregai o Evangelho a toda a criatura» (Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.

(Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, Papa Paulo VI)

“Quem se aparta da confissão da verdade, muda de caminho e o percurso inteiro se torna afastamento. Tanto mais próximo da morte estará quanto mais distante da luz católica.” (São Leão Magno, papa e doutor da Igreja)
 REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 23/05/2012

domingo, 20 de maio de 2012

OS ANJOS


    LOCAL: Capela beato João Paulo II
TEMA: OS ANJOS

OS ANJOS: QUEM SÃO?
A existência dos anjos e sua atuação na economia da salvação sempre foram atestadas pela autoridade da Igreja com unanimidade. Sendo assim, o Catecismo da Igreja Católica (§ 328) declara que a existência deles é verdade de fé. Os anjos:
- São seres puramente espirituais criados por Deus à sua imagem e semelhança, segundo nos ensina as catequeses do saudoso Papa João Paulo II.
- São seres racionais e pessoais, dotados de inteligência e vontade.
- Possuem o livre-arbítrio, além de serem imortais.
- Não possuem corpo material, embora, se assim Deus ordenar, possam se apresentar aos homens com um corpo.
- Superam em perfeição todas as criaturas visíveis e estão muito mais próximos de Deus que as criaturas materiais.
A denominação “anjo” indica sua função: mensageiro. São eles os servos de Deus, que executam suas ordens e cooperam para a realização do plano de Deus.
Segundo São Tomás de Aquino, chamado de “Doutor Angélico” por conta de seus estudos sobre os anjos, Deus os criou para que pudessem espelhar a perfeição do Criador, por isso, criou estes seres elevados em maior quantidade que os seres materiais, na verdade, em uma quantidade incalculável, pois a própria Escritura cita-os como “miríades e miríades e milhares de milhares” (Ap 5, 11).

A HIERARQUIA ANGÉLICA
Os anjos desempenham diferentes funções e diferem uns dos outros. "Isaías fala dos Serafins; Ezequiel, dos Querubins; Paulo, dos Tronos, das Dominações, das Virtudes, das Potestades, dos Principados; Judas fala dos Arcanjos, enquanto o nome dos Anjos está em muitos lugares da Escritura", constata São Tomás de Aquino. Sendo assim, a Tradição, tendo como base os relatos da Sagrada Escritura, subdivide os anjos em nove ordens ou coros, distribuídos em três hierarquias:
PRIMEIRA HIERARQUIA – Formada pelos Santos Anjos que estão em contato mais íntimo com o Criador. Sua função é adorar e glorificar a Deus. São eles: os Serafins, Querubins e Tronos.
SEGUNDA HIERARQUIA – São responsáveis pelos acontecimentos relativos ao Universo e pela transmissão da Sabedoria Divina à terceira hierarquia. São eles: as Dominações, Potestades e Virtudes.
TERCEIRA HIERARQUIA – São os Santos Anjos que se encontram mais próximos dos seres humanos. Eles executam as ordens de Deus a respeito de cada pessoa. São eles: os Principados, Arcanjos e Anjos.

A QUEDA
Os anjos, todos criados por Deus, foram criados com plena liberdade de escolha. Deus então os convidou a serem participantes de sua intimidade. Mas, para que isso fosse possível, os anjos teriam de fazer uma opção por abraçar ou não esta comunhão com Deus. Sendo assim, ainda antes do homem ser criado, foram submetidos, segundo o Papa João Paulo II, a uma prova de caráter moral, onde deveriam escolher servir a Deus livremente, ou não.
Lúcifer era um poderoso e belíssimo anjo criado por Deus. Mas, tomado pelo orgulho, passou a querer se igualar a Deus. Deste modo, recusou servir ao Senhor, levando com ele um terço dos anjos que Deus havia criado. “Qual pode ser o motivo desta radical e irreversível escolha contra Deus? [...] Os Padres da Igreja e os teólogos não hesitam em falar de ‘cegueira’ produzida pela supervalorização da perfeição do próprio ser, levada até o ponto de velar a supremacia de Deus, que, pelo contrário, exigia um ato dócil de obediente submissão”, afirma o Papa João Paulo II em uma de suas catequeses sobre os anjos.
Os anjos bons, liderados pelo Arcanjo Miguel, permaneceram fiéis ao Criador, reconhecendo-o como Bem supremo e definitivo, enquanto os outros, liderados por Lúcifer, o rejeitaram, como narra o livro do Apocalipse (12, 7s): “Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles”.
Assim, os anjos foram divididos em bons e maus, sendo os maus denominados demônios. “Esta divisão não se realizou por obra de Deus, mas em consequência da liberdade própria da natureza espiritual de cada um deles. Realizou-se mediante a escolha que para os seres puramente espirituais possui um caráter incomparavelmente mais radical do que a do homem, e é irreversível dado o grau do caráter intuitivo e de penetração do bem de que é dotada a sua inteligência”, afirmou João Paulo II. Ou seja, como os anjos foram dotados de uma inteligência e conhecimento da verdade muito grande, a escolha de rejeitar a Deus foi feita com a plena consciência, de modo radical e eterno (assim, irreversível). O perdão aos anjos maus não é possível não por conta de uma falha na misericórdia de Deus, mas simplesmente porque neles não há qualquer arrependimento, nem haverá, dado que fizeram sua escolha no pleno conhecimento e permanecem eternamente em seu pecado. Assim, seu sofrimento é eterno porque seu pecado é eterno.

A AÇÃO DOS DEMÔNIOS
Os demônios, como já citado, foram expulsos do céu e, desde então, procuram atrapalhar os planos de Deus a todo custo, haja vista o ódio que têm de Deus e de tudo que vem Dele. E, se Satanás e os demônios operam no mundo mediante o seu ódio contra Deus e seu Reino, isto é permitido pela Divina Providência, pois Deus é capaz de extrair o bem de algo mal.
Uma das maiores investidas de Satanás no mundo atual é justamente fazer com que os homens não acreditem em sua existência: “[...] fazer-se ignorar corresponde aos seus interesses. A habilidade de Satanás no mundo está em induzir os homens a negarem a sua existência, em nome do racionalismo e de cada um dos outros sistemas de pensamento que procuram todas as escapatórias para não admitir a obra dele”, reforça João Paulo II. Não é que todo o mal existente no mundo se origine na ação direta dos demônios, mas não se pode negar que eles conservam as mesmas habilidades que possuíam quando ainda eram anjos bons: inteligência e poder, por exemplo. Sendo assim, utilizam-nas agora para o mal, para tentar contra as obras de Deus e fazer, principalmente, com que os homens se percam e não alcancem a salvação.
Mas como isso se dá? Você já deve ter visto algumas representações de “diabinhos” dando maus conselhos às pessoas, tentando desviá-las das boas recomendações dadas por seus “anjinhos”. A realidade é que estes seres espirituais, tanto os anjos quanto os demônios, têm poder sobre a imaginação humana. São Tomás de Aquino afirma que os anjos podem dar aos seres humanos boas inspirações, inclinando-os à prática da virtude, sugerindo-os bons propósitos, ajudando-os em suas tarefas, dando-lhes boas ideias, enfim, em toda sorte de ações sua influência pode colaborar. Os demônios, pelo contrário, estão sempre à espreita de uma oportunidade para fazer o homem ofender a Deus, prejudicar seu próximo ou praticar qualquer atitude má – influência denominada tentação. A esse respeito, alerta o Papa João Paulo II: “A ação de Satanás consiste, antes de tudo, em tentar os homens ao mal influindo na sua imaginação e nas suas faculdades superiores para as orientar em direção contrária à lei de Deus. Satanás põe à prova até Jesus (cf. Lc 4, 3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da salvação como Deus a estabeleceu”.
Para discernir qual influência está sendo aplicada a si, o cristão deve examinar em que estado se encontra sua alma: onde há paz e alegria, boa disposição da alma para ajudar o próximo e amor a Deus, certamente está presente a ação dos anjos. Já quando o coração se encontra perturbado e inquieto, é bom tomar cuidado, pois a causa pode ser as tentações dos demônios.
 
O ANJO DA GUARDA
A forma a qual Deus escolheu para tornar os anjos muito próximos dos homens foi designar um Anjo da Guarda para cada um. Desde o seu começo, ensina o Catecismo da Igreja Católica (§ 336), até a morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão.
Desde o nascimento, cada pessoa recebe um anjo como seu guardião. Este anjo não terá outro a quem proteger em toda a história da humanidade, ou seja, sua função exclusiva é zelar para que a alma que lhe foi confiada não se afaste de Deus. São Tomás de Aquino ensina que mesmo os não batizados possuem um anjo guardião, pois Deus desejou dar um protetor e amigo a todos os homens. Segundo a doutrina católica, o Anjo da Guarda não abandona seu protegido nem mesmo quando se encontra no pecado, mas, antes, procura reconduzi-lo ao bom caminho e ao arrependimento para que se reconcilie com Deus. Santo Agostinho indagava: “Como podem os anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos? Eles não se apartam de nós, embora aqueles que são assaltados pelas tentações pensem que estão longe”.
O Anjo da Guarda apresenta a Deus as súplicas daquele a quem guarda, defende-o das ciladas do demônio e roga a Deus incessantemente por sua vida.
Alguns santos tiveram a oportunidade de conviver com seu Anjo da Guarda de forma visível, como Santa Gemma Galgani e São Pio de Pietrelcina.

CARTA DE SÃO PIO DE PIETRELCINA A UMA FILHA ESPIRITUAL SOBRE O ANJO DA GUARDA

“Deves muita devoção a esse bondoso anjo. Como é bom pensar que temos um espírito perto de nós, um espírito que, do berço até o túmulo, não nos deixa um só instante, nem mesmo quando ousamos pecar! Esse espírito celeste nos guia, nos protege, como um amigo, como um irmão. [...] Deves conservá-lo sempre diante dos olhos da mente: lembra-te com frequência da presença desse anjo, agradece-lhe, dirige a ele as tuas orações, sê para ele um bom companheiro. Abre-te e confia a ele os teus sofrimentos, tem receio de ofender a pureza do seu olhar. Tem consciência de sua presença e guarda-a bem na mente. Ele é tão delicado, tão sensível. Volta-te para ele nas horas de suprema angústia e experimentarás seus efeitos benéficos. [...] Nunca digas que estás sozinho na luta contra nossos inimigos. Nunca digas que não tens uma alma à qual podes te abrir e confiar-te. Seria um grande erro contra esse mensageiro celeste.”

SÃO MIGUEL ARCANJO
 Seu nome significa “Quem como Deus?”. São Miguel é chamado de Príncipe dos Exércitos Celestes e Guardião da Igreja Católica. É o mais poderoso anjo entre todos os outros, pois derrotou Lúcifer, o anjo que havia se rebelado contra Deus.
Sendo assim, Miguel, por ter sido o primeiro a se colocar em defesa da verdade, recebeu a honra de se tornar o Protetor do Povo de Israel e, mais tarde, Defensor da Santa Igreja.
No dia 29 de setembro de 1891 o grande pontífice Leão XIII fez publicar uma oração que ele próprio escrevera a São Miguel. Oração chamada por muitos de “Pequeno Exorcismo de Leão XIII”. Este Vigário de Roma não só a publicou como mandou que obrigatoriamente os sacerdotes a rezassem no encerramento de todas as Missas. O motivo foi uma revelação divina.
Sua Santidade estava fazendo sua ação de graças na Missa, quando viu Roma ser invadida por enormes nuvens sombrias de espíritos infernais. Durante a visão ouviu uma discórdia entre Jesus e satanás, este exigia um pouco mais de tempo para destruir a Igreja ao que o Senhor respondeu: “Terás o tempo que pedes depois faremos as contas”.
Leão XIII, iluminado por Deus intuiu que a vitória desta discórdia estava entregue a São Miguel e que seria ele quem precipitaria o Príncipe das trevas, com todos os que o servem, no mais profundo abismo.

“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e a todos os  espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas.”

REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 16/05/2012

JUÍZO PARTICULAR e JUÍZO FINAL


    LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: JUÍZO PARTICULAR E JUÍZO FINAL

JUÍZO PARTICULAR
A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo. O Novo Testamento fala do juízo principalmente na perspectiva do encontro final com Cristo na segunda vinda deste, mas repetidas vezes afirma também a retribuição, imediatamente depois da morte, de cada um em função de suas obras e de sua fé. A parábola do pobre Lázaro e a palavra de Cristo na cruz ao bom ladrão assim como outros textos do Novo Testamento, falam de um destino último da alma pode ser diferente para uns e outros.
Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de imediato para sempre. (CIC §1021 e §1022)

JUÍZO FINAL
O Juízo Final acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu Filho, Jesus Cristo, Ele pronunciará então sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos então o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua providência terá conduzido tudo para seu fim último. O Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que seu amor é mais forte que a morte. (CIC §1040)

A RESSURREIÇÃO DA CARNE
Quem irá ressuscitar? Nos diz São Paulo que “assim como todos morreram em Adão, todos serão vivificados em Cristo”( I Cor 15,22). Todos, bons e maus hão de ressurgir dos mortos, mas nem todos terão a mesma sorte, “os que praticaram o bem, ressurgirão para a vida, os que praticaram o mal, ressurgirão para a condenação”(Jo 5,29). 
Os que morreram em Cristo, nos diz São Paulo," ressuscitarão primeiro, e os que ficam serão arrebatados, por sobre as nuvens, para ir de encontro a Cristo nos ares”(I Tes 4,16).
Santo Ambrósio nos diz: “Nesse arrebatamento sobrevirá a morte. À semelhança de um sono, a alma se desprenderá para voltar ao corpo no mesmo instante. Ao serem arrebatadas morrerão. Chegando, porém, diante do Senhor, novamente receberão sua almas, em virtude da própria presença do Senhor, porquanto não pode haver mortos na companhia do Senhor”( Aug. de Civ. Deis XX 20)

COMO SERÃO OS CORPOS GLORIOSOS?
Os corpos dos ressuscitados terão propriedades, à semelhança do corpo ressuscitado de Cristo, portanto ser-lhe-á restituído tudo o que pertença a integridade da natureza, os dons, as excelências do homem como tal .
Entre os dons dos corpos ressuscitados dos santos , segundo São Tomás e o catecismo Romano, estão:
Impassibilidade: Dom especial cuja virtude é impedir que os corpos sintam qualquer dor, sofrimento ou incômodo. “Semeia-se o corpo na corrupção, diz o Apóstolo, e ressurgirá na incorruptibilidade” (I Cor. XV, 42). A impassibilidade não é comum aos condenados, cujos corpos podem, apesar de imperecíveis, podem padecer de todas as formas de sofrimento.

Claridade: Dom especial pelo qual os corpos dos Santos refulgirão como o sol. Esta claridade é um certo resplendor comunicado ao corpo pela suma bem-aventurança. Diz Nosso Senhor: “Os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai” (Mat. XIII, 43). Esse é o dom que às vezes o Apóstolo chama de “glória”.
Mas não devemos crer que todos sejam dotados da mesma claridade, como o serão da mesma incorruptibilidade. O fulgor do corpo ressuscitado será proporcional à santidade da alma. Diz São Paulo: “Uma é a claridade do sol, outra a das estrelas. Com efeito, uma estrela difere da outra em claridade. Assim acontecerá na ressurreição dos mortos” (I Cor XV, 41-42). Esta claridade é um certo resplendor comunicado ao corpo pela suma bem aventurança da alma. Vem a ser a participação da felicidade, de que goza a própria alma, pois nela recai uma parcela da felicidade divina.

Sutileza: O corpo ficará inteiramente sujeito ao império da alma, prestando-lhe serviço, e executando suas ordens com prontidão. “Semeia-se um corpo animal, ressuscitará um corpo espiritual” (I Cor. XV, 44). É bem notar que a sutilidade, de modo nenhum, implica que o corpo ressuscitado deixe de ser matéria para se converter em espírito; é matéria autêntica, contudo matéria mais intensamente penetrada pelo espírito; o que quer dizer: enriquecida de qualidades mais nobres dos que as que possui atualmente. 
A expressão paulina “corpo espiritual” não significa senão corpo de matéria em que o Espírito Santo expande plenamente a vida e glória de Deus. 
Explica Santo Agostinho: “Assim como o espírito, servindo à carne, é, com razão, dito carnal, assim a carne, servindo ao espírito, é adequadamente chamada espiritual, não porque se torne espírito, como julgam a alguns baseados em I Cor. XV...; mas porque se sujeitará ao espírito numa suma e admirável prontidão para obedecer... removido todo sentimento de dor, toda corruptibilidade e lentidão. Não somente o corpo não será tal como é agora no melhor estado de saúde, mas nem mesmo tal como foi nos primeiros homens antes do pecado.” (De civ. Dei 13, 20).

Agilidade: Devido ao dom da sutileza, poderão se mover para onde a alma queira. No Cristo ressuscitado tem-se claro exemplar de tal prerrogativa: com admirável facilidade o Senhor se transpunha de uma região a outra da Palestina.

REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 02/05/2012

PECADO


           LOCAL: Capela Beato João Paulo II
TEMA: PECADO
"É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido."
(Nossa Senhora em Fátima, outubro de 1917)

O QUE É O PECADO?
“O pecado é ofensa a Deus: "Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus olhos" (Sl 51,6). O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por vontade de tornar-se "como deuses", conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, "amor de si mesmo até o desprezo de Deus".” (CIC §1850)
A doutrina católica distingue o pecado em 3 categorias: o pecado original, o pecado mortal e o pecado venial.
“O homem, quando peca, diz a Deus com as suas obras: Afasta-Te de mim, não Te quero obedecer, nem servir, nem reconhecer por meu Senhor, nem ter por meu Deus. O meu Deus é o prazer, o interesse, a vingança.” (Santo Afonso de Ligório)

PECADO ORIGINAL
“De que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? O gênero humano inteiro é em Adão "como um só corpo de um só homem". Em virtude desta "unidade do gênero humano", todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo. Contudo, a transmissão do pecado original é um mistério que não somos capazes de compreender plenamente. Sabemos, porém, pela Revelação, que Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana: ao ceder ao tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a Natureza humana, que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado "pecado" de maneira analógica: é um pecado "contraído" e não "cometido", um estado e não um ato.” (CIC §404)

EFEITOS DO BATISMO EM RELAÇÃO AO PECADO
Apaga totalmente da alma o pecado original e todos os pecados atuais, antes cometidos; esses pecados não são apenas cobertos, mas apagados de fato, e de forma definitiva. Assim o definiu expressamente o Concílio de Trento.
Perdoa toda a pena devida pelos pecados, tanto a temporal como a eterna. De modo que se um pecador recebe o Batismo no momento da morte, entra imediatamente no Céu, sem passar pelo Purgatório. Foi o que ensinou o Concílio de Florença e o de Trento definiu.
Quanto às crianças mortas sem Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na misericórdia divina e a orar pela salvação delas.
  
DIFERENÇA ENTRE PECADO MORTAL E VENIAL
“Considerando o pecado, ademais, sob o aspecto da pena que implica, Santo Tomás com outros doutores, chama mortal ao pecado que, se não for remido, faz contrair uma pena eterna; venial, ao pecado que merece uma simples pena temporal (quer dizer, parcial e expiável na terra ou no Purgatório).” (Papa João Paulo II, 2 de Dezembro  de 1984)

PECADO VENIAL
“Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento.” (CIC §1862)
Apesar e não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas (pecados veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular de nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. (CIC §1458)
O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança com Deus. É humanamente reparável com a graça de Deus. "Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna."
O homem não pode, enquanto está na carne, evitar todos os pecados, pelo menos os pecados leves. Mas esses pecados que chamamos leves, não os consideras insignificantes: se os consideras insignificantes ao pesá-los, treme ao contá-los. Um grande número de objetos leves faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos faz um montão. Qual é então nossa esperança? Antes de tudo, a confissão... (CIC §1863)

PECADO MORTAL
“Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos. Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".” (CIC §1033)

CONDIÇÕES PARA SE PECAR MORTALMENTE
Todo o pecado é uma transgressão da lei de Deus; mas, para ser mortal, é necessário que essa transgressão corresponda a três condições; faltando ainda que seja uma só delas, já não é mortal.
A transgressão deve ser:
1) Em matéria grave. Isto sucede quando se viola um ponto importante da Lei de Deus. “A matéria grave é precisada pelos Dez mandamentos, segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: "Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não dó fraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe" (Mc 10,19). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um assassinato é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas é levada também em consideração. A violência exercida contra os pais é mais grave que contra um estranho.” (CIC §1858)

2) Com plena advertência. Há plena advertência, quando sabemos que o que estamos para fazer ou para omitir é gravemente proibido ou ordenado. Não é necessário pensar no mal do pecado; basta saber que se faz coisa gravemente má. Falta a plena advertência quando se age por distração, com o espírito confuso, entre o sono e a vigília, etc. Nestes casos o pecado já não é mortal. Se a advertência falta completamente, não há pecado algum;

3) Com consentimento deliberado; isto é, quando se sabe que uma coisa é má, e, todavia, se faz voluntariamente. As paixões, e especialmente o temor, a ira, a provocação grave podem diminuir a força da vontade, atenuando a culpa, e torná-la à vezes até venial. Falta também o consentimento deliberado quando alguém age constrangido pela violência física. (exemplo: uma mulher que foi estuprada não pecou cometeu pecado).

PECADOS GRAVES CITADOS NO CATECISMO

- Ato sexual fora do Matrimônio, assim como masturbação e adultério.
- Blasfêmia contra o Espírito Santo (quem se nega a acolher a misericórdia de Deus)
- Blasfêmia (proferir contra Deus interior ou exteriormente - palavras de ódio, de ofensa, de desafio, em falar mal de Deus, faltar-lhe deliberadamente com o respeito ao abusar do nome de Deus). A proibição da blasfêmia se estende às palavras contra a Igreja de Cristo, os santos, as coisas sagradas.
- Homicídio (O assassino e os que cooperam voluntariamente com o assassinato cometem um pecado que clama ao céu por vingança. Preocupações de eugenismo ou de higiene pública não podem justificar nenhum assassinato, mesmo a mando dos poderes públicos.)
- Inveja (Quando deseja um grave mal ao próximo, é um pecado mortal)
- Ira (Se a cólera chega ao desejo deliberado de matar o próximo ou de feri-lo com gravidade)
- Maldade (O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave.)
- Mentira (A gravidade da mentira se mede segundo a natureza da verdade que ela deforma, de acordo com as circunstâncias, as intenções daquele que a comete, os prejuízos sofridos por aqueles que são suas vítimas. Embora a mentira, em si, não constitua senão um pecado venial, torna-se mortal quando fere gravemente as virtudes da justiça e da caridade.)
- Ódio (O ódio ao próximo é um pecado quando o homem quer deliberadamente seu mal. O ódio ao próximo é um pecado grave quando se lhe deseja deliberadamente um grave dano.)
- Sacrilégio (profanar ou tratar indignamente os sacramentos e as outras ações litúrgicas, bem como as pessoas, as coisas e os lugares consagrados a Deus. O sacrilégio é um pecado grave, sobretudo quando cometido contra a Eucaristia, pois neste sacramento o próprio Corpo de Cristo se nos torna substancialmente presente.)
- Transgressão da obrigação de participar da Eucaristia nos dias de preceito (a não ser por motivo grave)

EFEITOS DO PECADO MORTAL NA ALMA DO PECADOR
“O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior.”
O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofenda e fira.
“O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.” (§1855 e 1861)
Por um só pecado mortal:
- Milhões de anjos do Paraíso converteram-se em horríveis demônios, por toda a eternidade.
- Foram expulsos do Paraíso terrestre os nossos primeiros pais, Adão e Eva, submergindo a humanidade num mar de lágrimas e doenças, guerras e mortes.
- Serão mantidos no Inferno, por toda a eternidade, os culpados a quem a morte surpreende em pecado mortal.
Eis os efeitos que o 'pecado mortal' produz na alma do pecador:
1. Perda da Graça santificante, das virtudes infusas e dons do Espírito Santo.
Priva a alma da Graça de Deus e da amizade de Deus.
2. Perda de presença amorosa da Santíssima Trindade na alma.
3. Perda dos méritos adquiridos em toda a vida passada, tornando-a incapaz de adquirir novos méritos.
4. Feiíssima mancha na alma, que a deixa tenebrosa e horrível, à Visão Divina.
5. Torna a alma escrava de Satanás, aumento das más inclinações e remorsos de consciência.
6. Fá-la merecer o Inferno, e também os castigos desta vida.

O pecado mortal é o Inferno em potência. É um verdadeiro suicídio da alma e da vida da Graça de Deus em nós.

MORTE EM PECADO MORTAL
“O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira.” (CIC §1035)
O Papa Gregório X que presidiu o Concílio de Lyon II em 1274 declarou ex-catedra que: As almas daqueles que morrem em pecado mortal ou apenas com o pecado original, em qualquer caso, descem imediatamente ao inferno, embora punidos com diferentes castigos.” (Denzinger, Fontes do Dogma Católico) afirmação que foi repetida pelo Papa João XXII em 1321.

É BOM PREPARAR-SE PARA UMA SANTA MORTE
Ensina o catecismo: “A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte "Livra-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista": antiga ladainha de todos os santos, a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós "na hora de nossa morte" (oração da "Ave-Maria") e a entregar-nos a São José, padroeiro da boa morte:
“Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesses de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranqüila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?” (Imitação de Cristo)
“Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal.” (São Francisco de Assis)”

VISÕES DO INFERNO
Santa Faustina descreveu o inferno como segue:
"Hoje fui dirigida por um Anjo aos abismos do inferno. É um lugar de grande tortura; como terrivelmente grande e extenso é! As espécies de torturas eu vi:

·         A primeira tortura que constitui o inferno é a perda de Deus;
·         Segunda é o remorso perpétuo da consciência;
·         Terceira é que aquela condição nunca mudará;
·         Quarta é o fogo que penetrará na alma sem destruí-la—um sofrimento terrível, como é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira de Deus;
·         Quinta tortura é a escuridão ininterrupta e um terrível e sufocante odor. Apesar da escuridão, os demônios e as almas dos condenados vêem todos os males, os próprios e dos outros;
·         Sexta tortura é a companhia constante de Satanás;
·         Sétima é o desespero horrível, aversão de Deus, palavras vis, maldições e blasfêmias.

Estas são as torturas sofridas por todos os condenados, mas isto não é o fim dos sofrimentos. Há torturas especiais dos sentidos. Cada alma sofre sofrimentos indescritíveis, terríveis, relacionados à maneira com que se pecou. Há cavernas e fossas de tortura onde uma forma de agonia difere da outra. Teria morrido na mesma visão destas torturas se a onipotência de Deus não tivesse me apoiado. Escrevo isto no comando de Deus, de modo que nenhuma alma pode achar uma desculpa por dizer não há inferno, nem que ninguém jamais esteve lá e por isso não se pode dizer como ele é".

“Tenhamos sempre horror ao pecado mortal e nunca deixemos de caminhar na estrada da santa eternidade.” (Padre Pio)

REC – REFLEXÕES E ESTUDOS CATÓLICOS – 02/05/2012